Cultura popular fruiu como água fonte de amor e de vida
Durante
meses, pensou-se num espetáculo “fora da caixa”, mas que fosse um hino de
cultura popular, vestida com uma nova “roupagem” com traços de união entre o
tradicional e o mais contemporâneo. Pois bem. O espetáculo etno-musical “ Água Fonte de Amor e de
Vida excedeu as melhores expectativas. Algumas mentes mais tradicionalistas,
confirmaram que toda a mudança tem associada uma resistência, mas para quem
“entendeu” a mensagem e a linha conceptual, sem falsos pudores alinhados com o
conservadorismo da tradição, percebeu e recebeu com satisfação, este banho de
cultura.
Na verdade, uma multidão pode assistir a um
espetáculo multifacetado, com preocupações ambientais, fundamentalmente, com a
escassez da água porque sem ela não haveria vida em nosso planeta e pese embora
este recurso seja encontrado em abundância em nosso planeta (cerca de 70% da
superfície é composto por água), somente 4% da água é doce, ou seja, própria
para o consumo. Tudo isto aconteceu no Largo da Praça um espaço cénico de
eleição a ganhar novas tonalidades, para receber a encenação “ Água Fonte de
Amor e de Vida”.
Mas
antes de mais importa voltarmos ao surpreendente momento cultural para deixar
claro que foi obviamente um êxito, testemunhado por muitos e corroborado por
alguns em declarações que a seu tempo conheceremos.
Tudo
nesta noite serena e quente se conjugou para que raiasse a excelência. Um local
emblemático da vila cheio de pessoas que aplaudiram quando era necessário e se
mantiveram num silencio impressionante sempre que os protagonistas evoluíam num
palco montado de “olhos nos olhos” com o público, ora surpreendido, ora a reagir
aos quadros do espetáculo que ia fazendo a simbiose entre o tradicional e o moderno, numa relação sem preconceitos, intima, descarada, mas sem desvirtuar a
essência do mote escolhido e das referencias culturais também presentes na sonoridade
única do “Rodízio” (assim foi batizado esta criação de Bitocas Fernandes), constituído por diversos artefactos sempre com a
ligação ao mote da noite sobre a
água.
O criador deste estranho instrumento musical
“Rodízio” dentro do tanque do chafariz da Praça ia tocando sempre a propósito
acompanhando os diversos momentos do espetáculo, que abriu aliás, com esta sonoridade única que saía de objetos como: bidões cheios de água, tachos,
pedras, regador, cordas de estender roupa, tubos de canalizações, roda de
bicicleta, sinos, arcos de ferro, alguidares e muitos outros.
Mas
durante mais de duas horas aconteceram muitos mais momentos para recordar,
desde da notável prestação das Adufeiras da Casa do Povo do Paul, que começaram
a sua atuação pela preocupação ambiental, fazendo sobressair a importância da água
na sociedade contemporânea, passando pelas danças dos grupos convidados que
vieram da Faro e de Leça do Balio e claro está, do Rancho Folclórico do Paul a
comemorar 80 anos de vida e 40 de Casa do Povo, sendo que, a ligação com a contemporaneidade
foi feita pelo grupo local de ginástica acrobática Wordlwidegyme o regresso às referencias
do passado com o cativante arranjo sonoro da canção da Senhora das Dores, com a
fusão dos bombos, adufes e do “Rodízio” a fechar este banho de cultura que
ontem aconteceu na vila do Paul.
No
final, os olhares dos protagonistas cruzavam-se. Havia neles um misto de
satisfação, orgulho e de pertença de terem estado no epicentro de um singular
acontecimento que não deixou ninguém indiferente. Para o bem e para o mal.
Depois
enquanto alguns se iam divertindo e descomprimindo com as danças do mundo que
aconteceram logo após ter terminado este momento para recordar, nós fomos ao
encontro dos que quiseram opinar sobre o
espetáculo ““ Água Fonte de Amor e de Vida”
O que eles
disseram
Luís Vale – Presidente da
Assembleia de Freguesia
“ hoje é daqueles dias em que grande parte da população que encheu o Largo da
Praça saiu daqui com a alma cheia. A Casa do Povo do Paul, apresentou aqui um espetáculo
de enormíssima qualidade que ficava bem em qualquer parte do mundo. Esta
entidade paulense é uma joia em termos culturais e quando apresenta os seus espetáculos
consegue surpreender. Inovar é sempre importante. O antigo e o novo, o
tradicional e o contemporâneo, conseguiram coabitar muito bem. Para mim foi dos
melhores espetáculos que já assisti não só no Paul mas um pouco por todo lado”.
José Luís Adriano –
Ex-coordenador da Comissão Técnica da Federação Portuguesa de Folclore da Beira
Baixa “ gostava
de olhar para este espetáculo numa visão do que foi a cultura do Paul nestes 80
anos. Em 1938 o Paul apresentou a vida quotidiana de então e agora neste espetáculo
viu-se a cultura dos dias de hoje. Ora isto quer dizer que a cultura não está
morta. A identidade cultural da freguesia esteve sempre presente neste espetáculo,
mas não se pode representar nos dias hoje os anos vinte do século passado, sem
olharmos para os anos vinte do Século XXI e por muito que custe aos tradicionalistas
se não formos capazes de inovar sem descaraterizar a tradição, a cultura morre”.
Bitocas Fernandes – Encenador do espetáculo e instrumentista do “Rodiziou” – “ o espetáculo já terminou mas emoções continuam ao rubro. Não foi só o tempo do espetáculo, mas todo o percurso que foi de partilha, interação entre as pessoas e de descoberta. Estas duas horas de atuação, foram de grande espontaneidade e encontro, no processo criativo demos um novo “ sabor” aos temas mais tradicionais. O instrumento Rodízio que criei no chafariz da Praça excedeu a expectativas e correspondeu ao que se esperava dele e o mesmo se aplica ao espetáculo em si que tem pernas para andar e ter continuidade no futuro, até porque, este grupo tem gente muito criativa”
Fábio Barata - Elemento dos
Wordlwidegyme – “ o objetivo deste momento com
ginástica acrobática neste este espetáculo de cariz mais tradicional, foi dar
um toque mais moderno. Penso que esta ligação entre nós e o grupo de folclore
funcionou bem e sentimos isso mesmo com os aplausos e o carinho do público. Vamos
ver se conseguimos fazer mais atuações deste género porque o Wordlwidegyme
considera esta experiencia muito positiva”
Leonor Narciso – Encenadora e
Adufeira – “
acho que correu bem este desafio que nos propusemos em conjunto com os outros
grupos. Deu muito trabalho mas o resultado foi positivo e penso que temos condições
no grupo para dar continuidade a este tipo de projetos que são desafiantes mas
ao mesmo tempo estimulantes.
Temos
na nossa cultura popular, muitas variáveis desde do canto, das danças dos toques
e o que fizemos foi pegar neles e dar-lhe novas “ nuances”, mas essência ficou inalterável
e talvez por isso, foi absolutamente arrepiante ver uma multidão em silencio a acompanhar
estas cambiantes das nossas referencias culturais. Assim sendo, esta foi uma
aposta vencedora e com saldo muito positivo.
Cristóvão Galvão – Presidente da
Direção da Casa do Povo do Paul
“ nas comemorações dos 80 anos do Rancho Folclórico do Paul e 40 anos de Casa
do Povo , este espetáculo “ Água Fonte de Amor e de Vida” foi a cereja em cima do bolo”. Conseguiu surpreender e mostrar uma qualidade
acima da média. Tínhamos vindo a dizer que os paulenses primeiro estranhavam
mas depois entrenhávam-se nas atividades das comemorações que entretanto fomos
realizando e hoje com esta magnifica moldura humana aqui na Praça confirmou-se
esta nossa posição. Foi muito bom este espetáculo e esta adesão popular. O
balanço é tão positivo que o Bitocas Fernandes já está a pensar noutros
projetos. Agora é tempo de ”saborear” o sucesso deste”.